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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

REFERENDO NA SUIÇA - MIRABETES

  • 2009-11-22
Dia 25 de Novembro os suíços referendarão sobre a construção de minaretes no seu próprio país. Devem ou não ser construídos? Eis a questão, colocam eles. Qual questão? Não há questão nenhuma, respondo eu. Respostas devem existir quando há perguntas e não este tipo de imposições disfarçadas de interrogações.
Voltamos, de novo, ao assunto “referendo”. Já disse e volto a dizer: por que raio uma maioria pode decidir o que uma minoria deve ou não fazer? Não pode nem deve, é a minha opinião. Neste caso (referendo sobre a construção de minaretes), a maioria quer deliberar se a minoria tem ou não direito a ter o seu local de culto religioso. Internamente, estamos a pôr em causa o direito de expressão de todas as religiões, o que para já é muito grave. Mas mais grave repercussão nesta questão é colocar os muçulmanos na clandestinidade, porquanto arriscamos a pagar um preço bem alto por isso. Se já todos sabemos até onde pode ir esta catástrofe, então porquê insistir nela?

Apesar da nossa bitola estar (ainda) em vermos a intolerância e a falta de liberdade religiosa em países como a Arábia Saudita e Dubai, nem isso pode desculpar a proibição em erguer um minarete num país ocidental.
Há, contudo, a desculpa de “estragar” o modelo arquitectónico da urbe, ou questões em torno das normas paisagísticas e urbanísticas, que por si até constituem um elemento bastante pertinente. Porém, não me parece motivo para justificar o não à construção dessas torres. E atenção, um minarete é uma pequena torre construída “bem juntinha a uma mesquita”, não é propriamente algo que se constrói em frente ao cinema local.
Poder! Esse é o maior problema. O papel do minarete está associado a duas funcionalidades: chamamento para a oração (adhan) e símbolo de soberania. Em qualquer parte do mundo, todas as estruturas verticais que se destacam em altura em relação à paisagem circundante, além de outras funções contingentes, estabelecem uma clara demonstração de poderio. Assim era por exemplo com as Torres Gémeas de Nova Iorque, um símbolo de força e poder do capitalismo americano (não foi por acaso que foram escolhidas como alvo de atentado), ou os portentosos 800 metros de altura do Burj Dubai, como símbolo do crescimento económico dos Emiratos Árabes Unidos, ou então com as torres das catedrais francesas no período de afirmação religiosa na Europa. E quando se trata de poder, o mais natural é que a coceira surja e, num instante, a guerra começa.

Numa altura em que o mais importante é discutir o amor incondicional, a partilha, a unidade entre povos e as suas respectivas crenças, independentemente da sua expressão espiritual, a grande maioria continua a dar energia a estes assuntos e a ficar-se apenas pelo chavascal que os referendos acarretam na evolução de uma civilização.
Apesar de ser na Suíça, em Portugal não se foge à regra no que toca à perda de energia com o que não interessa - veja-se o resultado que os referendos trouxeram até agora para o nosso país; a menos que a coisa fie fino e, então, até se justifica disparar para o ar: o caso Paulo Portas/Moderna; o caso Paulo Pedroso/Casa Pia; o caso Portucale; o caso Freeport; e, recentemente, as «certidões» da sucata. Tudo grandes casos que envolvem muita “energia”, que não passaram no teste do algodão, fiascos que continuam impunes e postos de lado, e ninguém faz nada!

Resta-me dizer que talvez seja agora a hora da Suíça aproveitar os seus anos de existência para construir um novo relógio de cucu, mas cujo cantar seja mais próximo da paz e do amor incondicional.



http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=1033

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